Durmo com as mãos sobre o meu coração. Eu pareço morto ao lembrar o vampiro que fui contra a natureza. Cada pessoa que conheci é cortada em pedaços como se fossem árvores. A ordem é cronológica e me pergunto quando verei meu amor morrer nos meus pesadelos.

Acalmo um pensamento específico sempre que acordo. Olho para minhas mãos, não há mais coisas crescendo na minha pele, apenas a mesma quantidade. Ideias de fuga arranham meu cérebro enquanto aqueço meu coração. A ilusão não esfria a rotina.

Ando com uma convicção mansa que não é minha. Minhas unhas mastigam a terra, sinto que crio a minha cova. Me ajoelho com uma paciência lapidada perante os vazios na terra. O mar de sangue embaixo da minha pele perde os visitantes, eles flutuam de tanta compostura.

Raízes educadas se acomodam e filhotes dóceis exigem cobertores de terra. Respeito a repetição diária, meu sangue rega a esperança. Minha dor faz os olhos invisíveis chorarem em silêncio. E aí meus olhos gritam uma memória: há quilômetros para renascer.

É tu. A tua memória me abomina. E tu permanece como símbolo de perigo. Tu me desconhece. Se eu precisasse de ti para sonhar aí teu ego veria uma conexão entre nós. E tu mentiria com a palavra especial. Ainda sonho. Mas. O monstro sonhado não é mais tu. É real.

Não é tu. A pessoa que menos confio. Ou quem eu mais desprezo. Tu não é igual aos dominós do meu passado. Não preciso te pedir verdades. Tu sempre está onde promete. Fisicamente. Espiritualmente. Não existe frustração, você sempre admitiu tudo. É surreal.

É tu. Quem vai me ajudar com um sonho: deixar o mundo menos caótico. Não estou aqui para te amar. Ou perdoar. Mas tu nunca foi meu monstro, então vou confiar. Eu sorrio e agradeço sem aceitar mais mortes. Tu já é útil, Ajudante de detetive sem liberdade.

A pessoa que dança não tinha muito tempo para praticar bem. Uma mente empática iria constatar que a dança está sendo feita num período de recuperação do corpo. E que o olhar vazio é resultado de palavras insensíveis com conselhos infalíveis de perfeição.

A pessoa que ‘dançou’ não tem muito tempo para praticar o bem. Seu coração passa com rancor pela janela do estúdio onde artes dançantes são ar. Seus cortes admiram quem os criou e aí se espelham neste corpo, pois seu ‘clone’ não lhe assassinou direito.

Corpos perfeccionistas. Mentes ausentes. Cada arte para o chão era uma mistura de lindeza física e feiura espiritual. Pés amassaram orgulho. Um vinho mágico foi criado. Era sangue desumano: sangue de gente. A magia sorriu quando os dragões voltaram a respirar.

newsletter

natacha@kanaua.com